O
sonido estridente do despertador do celular de minha mulher toca precisamente
às cinco da manhã. Ela se apressa em levantar, imbuída das responsabilidades do
dia, mas eu ainda tenho mais vinte minutos. Viro de lado e tento dormir mais um
pouco. O peso da sonolência começa a levar minha mente para o mundo no qual tanto
gosto de viajar e já estou quase nele quando o canto forte de um bem-te-vi me traz
de volta para a clarividência desse dia que nasce. Só o canto dos pássaros é
mais agradável que sonhar.
Ele
canta de novo e eu percebo que está perto da janela do meu quarto, levanto
apressado, mas, refletindo em sua fuga com a abertura das cortinas, contenho-me
e me satisfaço com seus sons. É um canto simples, com pouquíssimas variações,
mas rico de intensidade e mavioso encanto. Aproximo o ouvido da vidraça, quero
ouvi-lo melhor, e ele canta mais umas quatro ou cinco vezes até silenciar sem
ter uma companheira que lhe dê resposta.
Espero
por alguns minutos até ter a certeza de que já se foi. Abro a janela, não o
vejo. O seu trinado se faz ouvir mais uma vez, mas bem ao longe, já bem na
saudade, quem sabe à janela de outro admirador de seus gorjeios.
Fecho
a cortina sorridente e vou para os meus afazeres com a certeza de que esse
será um ótimo dia.
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