Páginas

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Lança Cravada no Vazio

Ouvi quando disseram que meu amor havia morrido. Em desespero corri àquele monte e o encontrei agonizante. Docilmente, o meu amor morria à minha frente! A dor que me envolveu foi tanta que não resisti e também vim a falecer. Três dias depois, quando me acordou, sua voz era a mais severa que um dia ouvi. Ele me falou:
“O ímpio não tem paz!”
Entendi o que ele dizia e me apiedei de seus assassinos.  Eles mataram o meu amor por ser ele a esperança que não têm. Vivem em guerra contra o meu amor, por ser ele o bálsamo que não possuem.
Estribados em suas próprias astúcias, supõem ter o sangue anilado devido à intelectualidade que possuem ou aos dividendos que amealham. Mas quando suas mulheres os trocam por maridos melhores, quando seus filhos – decepcionados com o vazio dos seus discursos filosóficos cheios de palavras buscadas e rebuscadas nos dicionários inúteis – esquecem-se deles, quando seus amigos sorriem amarelo da soberba e arrogância que transbordam no andar, eles se entregam ao vício, pois só o álcool, a fumaça ou pó podem lhes aliviar das dores de uma labuta inútil e solitária.
Encerrado o efeito das drogas, porém, enfurecidos pela repetitiva realidade que os calcina, eles cravam mais fundo a lança do ódio entre as costelas do meu amor. É que o desesperador vazio da falta de esperança leva-os à necessidade de vingança.
Então, com um sorriso meigo no rosto, meu amor me leva pela mão e andamos assim por um paraíso real chamado sossego.
E os assassinos ficam ali, no topo daquele monte, repetindo o ato de lhe cravar uma lança  entre as costelas, sem sequer perceberem que há muito o meu amor venceu aquela colina.

Nenhum comentário: