Ouvi quando disseram
que meu amor havia morrido. Em desespero corri àquele monte e o encontrei
agonizante. Docilmente, o meu amor morria à minha frente! A dor que me envolveu
foi tanta que não resisti e também vim a falecer. Três dias depois, quando me
acordou, sua voz era a mais severa que um dia ouvi. Ele me falou:
“O ímpio não tem paz!”
Entendi o que ele dizia
e me apiedei de seus assassinos. Eles
mataram o meu amor por ser ele a esperança que não têm. Vivem em guerra contra
o meu amor, por ser ele o bálsamo que não possuem.
Estribados em suas
próprias astúcias, supõem ter o sangue anilado devido à intelectualidade que
possuem ou aos dividendos que amealham. Mas quando suas mulheres os trocam por
maridos melhores, quando seus filhos – decepcionados com o vazio dos seus discursos
filosóficos cheios de palavras buscadas e rebuscadas nos dicionários inúteis – esquecem-se
deles, quando seus amigos sorriem amarelo da soberba e arrogância que
transbordam no andar, eles se entregam ao vício, pois só o álcool, a fumaça ou
pó podem lhes aliviar das dores de uma labuta inútil e solitária.
Encerrado o efeito das
drogas, porém, enfurecidos pela repetitiva realidade que os calcina, eles
cravam mais fundo a lança do ódio entre as costelas do meu amor. É que o
desesperador vazio da falta de esperança leva-os à necessidade de vingança.
Então, com um sorriso
meigo no rosto, meu amor me leva pela mão e andamos assim por um paraíso real
chamado sossego.
E os assassinos ficam ali, no topo daquele monte, repetindo o
ato de lhe cravar uma lança entre as
costelas, sem sequer perceberem que há muito o meu amor venceu aquela colina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário